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“Pra sempre vou te amar”

Ele não é “famoso”… Não está no topo da mídia, mas, tem uma íntima ligação com a história da música cristã. Atencioso e desprendido, Rodrigo Bueno, conta um pouco da sua vida, ministério e caminhada com Jesus

Paulo Alexandre – Especial para o Boas Notícias

Há muitos músicos cristãos espalhados pelo Brasil com ministérios consistentes que contribuíram (e ainda contribuem) de forma significativa para a música na igreja, mais diretamente com suas igrejas locais e uma amplitude regional e, longe da mídia, são “ilustres desconhecidos”. Rodrigo Bueno é destes músicas perseverantes e com talento que deveria ser mais difundido no meio cristão pela qualidade e conteúdo do seu trabalho. Recentemente, Rodrigo, que é mesmo “bueno”, lançou o CD “Sempre Vou Te Amar”, reunindo músicas que contam a sua história de vida e trajetória musical. Pela “providência” e não pela “coincidência” e a boa ajuda da internet, conheci seu trabalho e fui presenteado com o CD (que aliás, é meu parceiro em muitos dias da semana). Nesta entrevista, Rodrigo vai falar um pouco da sua vida musical, suas impressões sobre a popularização do gospel e seu chamado e prazer em servir ao Senhor através da música.

Quem é Rodrigo Bueno? Breve biografia.

Sou paulista, de Jundiaí, 58 anos. Filho de militar e , por conseguinte, fui cativo na minha juventude daquela logística nômade dos caserneiros. A última parada foi em Brasília, por volta do ano de 1977, aonde finquei raízes desde então.  Casado com Joicilene, desde o ano de 1991, e pai de Rodrigo Jr, Gabriel e Davi.  Minha produção musical começou no ano de 1989, com o lançamento do álbum “Salvo Conduto”; Em 1983 foi a vez do LP “Novos Rumos”; e agora, em 2017, o CD “Sempre Vou Te Amar”. Enquanto isso (…), fui camelô em Nova York, comerciário, administrador de acampamento, empreendedor de pousada, professor, executivo da juventude batista, pastor, capelão de colégio, capelão de igreja, advogado e articulista, e agora, estou para lançar meu primeiro livro, ou seja, devo me tornar um escritor.  Alguns julgam a minha vida, errante, assim, meio mutante… Ora “sirvo à mesa”, ora “faço tendas”, ora “faço missões”, ora faço tudo misturado. Até fico zonzo, muitas vezes, indeciso. O fato é que o timbre da permanência nunca combinou muito com a minha personalidade, a exceção da fé em Deus e da estabilidade da família.

Como foi seu encontro e decisão por Jesus?

Corria o ano de 1978, eu recém chegara dos EUA, após um ano e meio de “American dreams”. Num sábado à noite, aqui em Brasília, fui assistir a um conjunto musical ‘moderno’ chamado Vencedores Por Cristo, que se apresentava da Igreja de Nova Vida da Asa Norte. Gostei das músicas e uma mensagem especial sobre a história do Filho Pródigo mexeu comigo. Senti o amor de Jesus invadindo o meu coração e me constrangendo em arrependimento e fé.  Aquele foi o momento de virada na minha vida, não obstante eu já pertencer a uma família cristã.

 Como, e desde quando, a música faz parte da sua vida?

Desde os 15 anos, quando aprendi a tocar violão. Passei a frequentar a igreja depois de convertido, e a música ia comigo por onde eu andasse; escola dominical, culto, evangelismo, e por aí vai. Aos 19 anos comecei a compor.

Sua 1ª composição: aquela que a gente jamais esquece?

Eu me impressiono muito com o fato de a minha primeira composição haver se tornado a mais especial de todas! A canção “Eis-me Aqui” sintetiza os meus primeiros passos na caminhada com Jesus. Eu estava cheio de gratidão e apaixonado pela nova vida em Cristo. A letra da música está na 1ª pessoa do singular, e assim muita gente se identificou com aquela mensagem. A primeira vez que foi gravada foi no álbum Salvo Conduto/1989. Depois, foi regravada muitas vezes. Me recordo que um grupo do RJ fez uma versão-pagode, o Grupo Raízes, aqui de Brasília regravou no estilo pop-rock, e até o próprio Grupo Vencedores Por Cristo, veja só, também já regravou esta canção! E por fim, eu mesmo regravei-a em meu último álbum, com arranjos do Filipe Beyer, de Curitiba. Deus me surpreende a cada dia ao permitir que esta canção, tantos anos passados, continue a render frutos para o Seu Reino. Jamais poderia imaginar. A Deus toda glória!

Como você encara a música na vida cristã?

Eu vejo a música como um fator motivacional extraordinário, porque ela faz aquela conexão invisível, mas poderosa, entre as nossas emoções e os atos da vida. Por isso prefiro a música que fala da vida cotidiana, que impulsiona os atos de bondade, que facilita o curso do perdão e da gratidão. Gosto da música que anima o coração para as lutas do dia a dia, porque entendo que a vida cristã acontece mesmo é nesta dinâmica existencial simples. Agora, para se encontrar música assim, a gente precisa garimpar. Eu estou pedindo a Deus que me ajude a compor deste jeito.

Os cânticos e hinos congregacionais são apenas uma expressão desta polifonia divina. Por isso eu entendo quando as pessoas falam “Deus me converteu através desta música”, ou “Deus usou esta música pra falar comigo, pra me levantar, pra me libertar…”. Deus também usa a música para instrumentalizar os seus atos de soberania no compasso da história humana; no som das harpas e das flautas dos descendentes de Jubal, nos tambores de guerra de Josué, na marselhesa da Reforma (Castelo Forte). E para polemizar um pouco, eu digo que quando ouço a música “Eu Sei Que Vou Te Amar”, de Tom Jobim, e a minha paixão acende, eu penso que só a inspiração divina pra explicar uma canção de amor tão linda!

Que leitura você faz da chamada Música Gospel? E quanto à popularização da música gospel? Que leitura você faz deste novo cenário?

Com todo este crescimento atual dos evangélicos, eu diria que a chamada Música Gospel se transformou num fenômeno cultural. E como tal, já extrapolou os contornos de uma subcultura evangélica para assumir o status de um fenômeno sociocultural nacional. O que não significa que a Música Gospel está impregnada de brasilidade, porque o contexto geral é de muita diversidade religiosa, sincretismos, questões mercadológicas, e uma surpreendente influência estrangeira a partir de novos centros de irradiação musical evangélica.

A atividade musical atual também se profissionalizou bastante, o que é bom. Lamentável é a precificação artística nas alturas, e os desvios de conduta, especialmente daqueles seduzidos pela fama. De vez em quando ouço cada coisa horrível, que dá dó. Mas, quer saber, também tem muita música boa, muita gente boa, neste grande universo musical da Música Gospel. Como eu disse antes, tem que garimpar. Acho exagerado uma certa polarização que observo com base em rótulos “sou gospel” x “não sou gospel”. Pura bobagem.

Quais conselhos você daria para aqueles que trabalham com música na igreja? E também tem chamado para sair das quatro paredes?

Querido músico, faça o seu melhor. A música na igreja ganhou a vitrine dos cultos, não está mais na antessala, é protagonista da mensagem. Então a responsabilidade aumentou, seja com relação ao preparo espiritual, ou técnico, ou da inteligência musical estratégica na vida da igreja (inventei esta agora).

Finalmente, lembro que há um real perigo neste ponto, que é a música a serviço da religião, da vaidade humana, e da espetacularização. Se a música chegar aos ouvidos mas não alcançar os corações, não serve a Deus. Se a música não tiver força pra levantar o cansado, se não traduzir a beleza do evangelho, se não expressar a emoção genuína dos quebrantados, então não é música cristã. Vivemos um tempo no qual precisamos ser ainda mais criteriosos.

Sua palavra final…

Um dia desses eu vi um vídeo-clip com um grupo de MPB não cristão, andando pelas ruas de uma cidade. Alguns rapazes, de aparência simples, sem qualquer ostentação. Entraram numa padaria. Um deles puxou uma conversa amigável com as atendentes, enquanto outro começou a tocar um bandolim. Pediram licença para cantar uma música. Era uma canção bem suave, que falava sobre a coragem de viver. O que se seguiu a partir deste momento foi a coisa mais linda que eu já vi. Muita gente chorando, e ao mesmo tempo, feliz.  Parecia que um anjo chegou junto e começou a abraçar, um por um, naquele ambiente. E olha, que eu não duvido disso. Vamos lá pessoal, vamos cantar aonde o povo está. O desafio é simples:  usar a nossa música para abraçar as pessoas com muito carinho e afeição! E isto significa algo mais do que as romarias que fazemos por aí nesta época do natal, ok. Um abraço fraterno para todos!

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